O projeto para a intervenção na área da Casa da Feitoria com vistas a dotar o complexo de uma nova edificação, fundamental para a operacionalização do museu e preservação de seu acervo, parte da interpretação da paisagem e toma por premissa central a preservação das visuais atuais da Casa e do seu jardim em sua relação complementar e indissociável. A implantação do anexo previsto no programa elege a parcela sul do terreno e assume geometria capaz de minimizar a presença visual do volume para aqueles que se aproximam a partir do Centro da cidade pela Avenida Feitoria.
O arvoredo consolidado na poligonal de intervenção é mantido integralmente – a nova arquitetura acomoda as presenças vegetais em sua resolução e se beneficia da presença delas na sua busca por discrição, minimizando sua percepção a partir da visual norte. Em relação à Casa da Feitoria, adotam-se as diretrizes das bases do certame – notar-se-á a edificação recomposta seguindo os mais fies documentos históricos e detalhados estudos. Este esforço somado às diretrizes de implantação da edificação anexa deve garantir que a edificação tombada se reestabeleça em sua proeminente posição junto ao seu entorno imediato e se reafirme como marco de história viva e cultura da cidade de São Leopoldo.
As atividades destinadas à edificação anexa organizam-se a partir de uma clara determinação de ordem compositiva e estrutural. Duas linhas de pilares organizam três naves dentro do polígono determinado pelas condicionantes acima descritas – polígono este resultado de um particular encontro entre o pragmatismo da aplicação dos recuos obrigatórios e gestos pontuais idiossincráticos advindos da negociação com as árvores e da acomodação do programa. Recepção, bistrô e sala de exposições ocupam o setor que se relaciona diretamente com o jardim e com a Casa da Feitoria e possuem relações visuais ricas entre si e com este contexto imediato, com destaque para a valorização do poço de água como ponto focal. A sala de exposições garante seu pé-direito de 4 metros a partir da inclusão de uma leve rampa descendente, assim evitando que o volume do anexo se destaque demais na paisagem. Também elemento fundamental neste trecho, a passarela assume curvas sutis e procura tocar a Casa com apenas uma fração de aresta.
Aqui é preciso tratar a arquitetura com palavras figurativas pois o que se precisa explicar é de caráter sutil – a laje nova procura tocar a arquitetura histórica com a ponta dos dedos, como quem acaricia um animal pequeno, e não agarrá-la com os punhos cerrados como quem a quer amarrar. Ainda que a porta de acesso esteja posicionada próxima ao canto da Casa, toma-se o cuidado para não perturbar a aresta do volume, assim – com o canto liberado – se permite que a fachada voltada para o jardim de fundos se complete incólume e que a integridade da percepção do volume como algo uno seja garantida.
A zona central da planta baixa do edifício anexo é ocupada por áreas de apoio e se organiza ao redor de um oportuno pátio central que garante a premissa da não remoção de árvores. O acervo liga-se de maneira simples com a exposição, mas possui acesso também por corredor administrativo interno. A terceira faixa, com a fachada oposta ao pátio à disposição para fornecer luz e ventilação, é ocupada por espaços de trabalho de longa permanência e também acomoda uma escadaria descoberta de acesso a uma compacta área de instalações abaixo do nível do solo.