A Casa Lacerda é uma construção do século XIX e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1938. A edificação é localizada no Sul do Brasil, mais precisamente na cidade de Lapa, no Paraná. A residência era de propriedade do comerciante Manoel José Corrêa de Lacerda.
O concurso, lançado em outubro de 2019, foi promovido pelo próprio IPHAN e organizado pelo departamento do estado do Paraná do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PR). O concurso teve como objetivo o desenvolvimento de um projeto preliminar de edificação anexa para complementar o atual uso museológico da Casa Lacerda. O programa de necessidades proposto pelo concurso exigiu, entre outras coisas: espaços administrativos, espaços de operação, sanitários, biblioteca, espaço de exposições, loja e cozinha.
Normalmente, as intervenções no patrimônio histórico são divididas em duas estratégias: cópia exata das características construtivas pré-existentes ou ruptura total com o padrão formal e plástico. O projeto não adota nenhuma dessas alternativas de forma decisiva, optou-se por uma solução equilibrada entre as estratégias recorrentes.
A fachada voltada para a Casa Lacerda tem paredes rebocadas e pintadas na cor da edificação existente, assim como utiliza telhado com tecnologia idêntica. A fachada oposta tem solução formal abstrata e singular. O resultado é um conjunto em harmonia com a edificação existente, mas que ao mesmo tempo também se apresenta, de forma clara, como uma construção contemporânea. O conjunto é coeso e funciona de maneira naturalmente incorporada à Casa Lacerda, ressaltando suas características arquitetônicas de maneira ao mesmo sutil e contundente.
A nova construção é semi-enterrada e não obstrui a vista que se tem a partir da Casa. O térreo da edificação anexo é definido no nível -5.2, resultando em um pequeno rebaixo em relação ao passeio da travessa Francisco Brito de Lacerda, viabilizando que se obtenham confortáveis alturas de pé direito nos dois pavimentos que acomodam as atividades previstas para a nova edificação sem qualquer obstrução visual para os visitantes da Casa. A adoção de um pequeno pátio contíguo ao pátio histórico e a acomodação das atividades gregárias ao redor deste em muito aumenta a área de contato entre o novo e o antigo, tornando natural e convidativa a circulação entre as diferentes áreas. Este pátio foi cuidadosamente planejado para servir tanto ao segundo pavimento como ao térreo, permitindo ainda a realização de pequenas apresentações informais em função das arquibancadas viabilizadas por sua conformação.
O formato em “H” da proposta para a Casa Lacerda permite que a edificação seja internamente iluminada em todas as orientações, todas as áreas de trabalho e permanência no edifício tem aberturas que permitem a entrada de luz natural diminuindo a necessidade da luz artificial. Na área de exposições, um rasgo na laje permite a iluminação natural do espaço. Beirais e toldos nas fachadas permitem controlar a incidência do sol no verão, diminuindo a necessidade do uso de ar-condicionado, colaborando para a manutenção do conforto térmico no interior da edificação e diminuindo a exigência de energia elétrica. Foi evitado o uso de materiais, componentes, insumos e técnicas construtivas especiais. Foi dada preferência a materiais e técnicas convencionais que não utilizem mão-de-obra especializada facilitando os processos de manutenção da obra construída. O fato da proposta ser semienterrada (levando em conta o perfil original do terreno), não interrompe o fluxo das correntes de ventos e evita o sombreamento excessivo no terreno de implantação e vizinhos do entorno direto.
