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2405_Fiocruz

Procuramos inicialmente, ao estudar o sítio do projeto, compreender em essência qual a natureza deste espaço a ser criado. Compreendemos que o mais importante era que pudéssemos caracterizar o Memorial como um lugar de quietude e contemplação, onde a homenagem e o aprendizado convivam harmoniosamente com a re­flexão íntima de cada visitante. A estratégia central por trás do projeto reside na criação de uma desconexão sutil, mas eficiente com o entorno através da complementação paisagística. Entendemos que, garantindo este encerramento, criam-se as condições de aguçamento dos sentidos. O aumento do nível de concentração nas sutis variações que a luz, o vento e os animais trazem para o local permite que possamos acessar com mais clareza nossas memórias e nossos sentimentos. A caminhada se torna parte essencial da experiência, há um percurso planejado que acolhe e guia o visitante em uma calma progressão pelos espaços contemplativos desenhados, proporcionando a concatenação cênica planejada enquanto se avança em direção à interioridade do Memorial.

Em uma primeira visada, a nova construção se apresenta como um plano composto por uma longa linha de peças maciças de madeira. Insólita, essa fachada na verdade é a expressão natural do sistema construtivo e estrutural adotado, baseado em cabos metálicos tracionados associados a peças de madeira verticais em compressão, garantindo um balanço notável de leves e simples vigas de alumínio paralelas. O sistema se completa com tirantes de resistência ao arrancamento pelo vento. Ao mesmo tempo em que revela entre suas frestas vistas fracionadas do espaço que vem a seguir, esta fachada abstrata e simples do memorial mantém no primeiro momento o protagonismo da paisagem do jardim alongado que conduz ao interior. O caminho alongado é intencional e necessário, este momento é importante para evitar que o visitante entre bruscamente no espaço central.

O paisagismo proposto organiza visuais e oportuniza uma ambiência convidativa à contemplação. Pensado a partir de contraste de volumes, o desenho paisagístico explora diferentes alturas de maciços vegetais para propor pontos de vista que também valorizam a arquitetura proposta. Os maciços de bambu presentes nas bordas do terreno se colocam como um elemento visual que direciona o ­ fluxo do projeto. Sua forma foi pensada para destacar pontos focais da arquitetura e oportunizar a geração de ambientes acusticamente isolados. A vegetação abundante do local também é valorizada através da sua preservação e complementação em diferentes partes do projeto. Além das espécies existentes, foram incluídos exemplares como a samambaia-do-campo, a barba-de-serpente, o bananeirinha-de-jardim e o lírio-de-dia, que possibilitam a criação de uma composição de plantios folhosos e volumosos, protagonizados pelos tons verdes. Essas composições vegetais valorizam as espécies frondosas e vigorosas do local.

No coração do memorial se encontra um espaço com grandes dimensões, que se equilibra entre a promoção da introspecção individual e o aspecto cívico necessário para a representação da coletividade. Além de ser um local para re­flexão, o memorial também se destina a celebrações, homenagens e eventos gregários da instituição. É um gesto simbólico e respeitoso que dá visibilidade aos profissionais que trabalham pela saúde da coletividade, destacando a importância da FIOCRUZ para o sistema de saúde do Brasil.

O projeto prevê uma praça quadrada na qual haveria uma instalação artística. Indicamos um par de obras da série Sonambient, de Harry Bertoia. Estas esculturas, feitas principalmente de hastes de metal, foram projetadas para serem visualmente impressionantes e capazes de produzir sons únicos e ressonantes quando balançadas pelo vento ou batidas intencionalmente pelas mãos. Bertoia começou a criar estas esculturas na década de 1960, experimentando com diferentes materiais e configurações para produzir uma variedade de sons imersivos e complexos. Outro elemento que se destaca na paisagem é a pira de fogo colocada de maneira isolada no espelho d’água, que pode ser acesa em ocasiões especiais.

O som, o vento que faz farfalhar as árvores e a instalação artística, e a combustão do fogo são os elementos centrais da proposta. É por meio deles que nos apercebemos da presença do ar.

A abstração dos elementos da arquitetura cria condições para que cada visitante estabeleça uma conexão distinta com o Memorial, acreditamos que a experiência do espaço em si seja capaz de tornar tangível a memória da luta contra a COVID-19. Entendemos que a paisagem e o espaço transmitam serenidade e contemplação, contudo, uma observação atenta à construção faz notar o esforço excepcional a que cada parte do sistema construtivo está submetida e como cada uma é essencial para o funcionamento do todo. Assim, entendemos que conseguimos homenagear com esta obra todas as pessoas que se colocam em risco e que dedicam todas as suas energias para proteção da saúde do/a próximo/a.

status:
concurso

ano:
2024

localização:
Rio de Janeiro, RJ. Brasil.

cliente:
Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ); iab-rj

arquitetura:
Gabriel Johansson Azeredo

equipe:
Ruti Luíza Conrad, Paola Osterkamp e Paulo Fernando Torres Santos.

imagens:
scopeomedia

Desenhos

Planta Baixa

Planta Baixa

Corte Longitudinal

Corte Longitudinal

Corte Transversal

Corte Transversal

Corte Transversal

Corte Transversal

X
Planta Baixa

Planta Baixa

Corte Longitudinal

Corte Longitudinal

Corte Transversal

Corte Transversal

Corte Transversal

Corte Transversal

Imagens

O Memorial se apresenta de maneira insólita, como uma série linear de pilares maciços de madeira serrada e estais que, em seu ritmo, lembram um instrumento musical. O jardim permite uma transição calma entre o ambiente externo e o interior.

O Memorial se apresenta de maneira insólita, como uma série linear de pilares maciços de madeira serrada e estais que, em seu ritmo, lembram um instrumento musical. O jardim permite uma transição calma entre o ambiente externo e o interior.

Logo no início do percurso, em uma espécie de abside invertida, temos uma breve oportunidade de antecipar o interior do Memorial. Todos/as sabemos o que é ver o mundo através de uma janela.

Logo no início do percurso, em uma espécie de abside invertida, temos uma breve oportunidade de antecipar o interior do Memorial. Todos/as sabemos o que é ver o mundo através de uma janela.

Nesta perspectiva, indisponível para os visitantes, visualizamos simultaneamente o acesso e a ilha contemplativa e compreendemos como a fachada, que é também a estrutura portante, faz a mediação entre os dois espaços.

Nesta perspectiva, indisponível para os visitantes, visualizamos simultaneamente o acesso e a ilha contemplativa e compreendemos como a fachada, que é também a estrutura portante, faz a mediação entre os dois espaços.

A caminhada intencionalmente longa, desejavelmente calma, cumpre papel na apreciação do Memorial.

A caminhada intencionalmente longa, desejavelmente calma, cumpre papel na apreciação do Memorial.

O vento, o som e o fogo nos ajudam a perceber a presença do ar.

O vento, o som e o fogo nos ajudam a perceber a presença do ar.

A lâmina d’água sobre pedras escuras amplia o corpo de água disponível no sítio e cria uma superfície que re¬flete as copas das árvores do local.

A lâmina d’água sobre pedras escuras amplia o corpo de água disponível no sítio e cria uma superfície que re¬flete as copas das árvores do local.

O Memorial cria um espaço protegido por um perímetro vegetal denso, este jardim fechado aguça os sentidos e permite que percebamos todas as sutis alterações na luz, no vento e na presença de outras pessoas e animais.

O Memorial cria um espaço protegido por um perímetro vegetal denso, este jardim fechado aguça os sentidos e permite que percebamos todas as sutis alterações na luz, no vento e na presença de outras pessoas e animais.

A disposição dos bancos tangibiliza a percepção do distanciamento enquanto através da obra de Harry Bertoia nos apercebermos da presença do ar através do som e do vento.

A disposição dos bancos tangibiliza a percepção do distanciamento enquanto através da obra de Harry Bertoia nos apercebermos da presença do ar através do som e do vento.

Transição entre o jardim de acesso e a área interna do Memorial, os longos caminhos e a profundidade da visada são intencionais.

Transição entre o jardim de acesso e a área interna do Memorial, os longos caminhos e a profundidade da visada são intencionais.

O detalhe ressalta o banco desenhado especificamente para o projeto e a manutenção das árvores.

O detalhe ressalta o banco desenhado especificamente para o projeto e a manutenção das árvores.

Trecho de frase de Oswaldo Cruz.

Trecho de frase de Oswaldo Cruz.

X
Acesso principal

Acesso principal

Caminho de chegada

Caminho de chegada

Vista a partir do espelho d'água

Vista a partir do espelho d'água

Vista a partir do caminho de saída

Vista a partir do caminho de saída

Vista do espelho d'água

Vista do espelho d'água

Vista dos espaços de contemplação

Vista dos espaços de contemplação

Caminho de saída

Caminho de saída

Vista do espaço de reflexão

Vista do espaço de reflexão

Caminho de chegada e espaço de contemplação

Caminho de chegada e espaço de contemplação

Detalhe do banco

Detalhe do banco

Vista de chegada

Vista de chegada